sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Do Convite
" Não me interessa qual é o teu modo de vida. Quero saber o que anseias, e se te atreves a sonhar e alcançar os desejos do teu coração.
Não me interessa que idade tens. Quero saber se arriscas fazer figura de louco por amor, pelo teu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber quais os planetas que estão em quadratura com a tua lua. Quero saber se tocaste o centro da tua própria dor, se as traições da vida te abriram ou se murchaste e te fechaste com medo de outros sofrimentos!
Quero saber se consegues sentar-te com a dor, a minha ou a tua, sem te mexeres para a esconder, disfarçar ou compor.
Quero saber se consegues viver a alegria, a minha ou a tua, se consegues dançar loucamente e deixar que o êxtase te encha até às pontas dos pés e das mãos sem nos advertires para termos cuidado, sermos realistas, ou nos lembrares as limitações do ser humano.
Não me interessa se a história que me contas é verdadeira. Quero saber se consegues desapontar o outro para seres verdadeiro contigo próprio; se consegues suportar a acusação de traição e não atraiçoares a tua própria alma; se consegues não ter fé e seres, por isso, digno de confiança.
Quero saber se consegues ver a beleza todos os dias, mesmo quando o que vês não é bonito, e se consegues basear a tua vida na sua presença.
Quero saber se consegues viver com o fracasso, teu e meu, e mesmo assim erguer-te à beira do lago e gritar "Sim!" à lua-cheia prateada.
Não me interessa onde vives, nem quanto dinheiro tens. Quero saber se depois de uma noite de dor e desepero, exausto, dorido até aos ossos, consegues levantar-te e fazer o que é preciso para alimentar as crianças.
Não me interssa quem tu conheces, nem como chegaste aqui. Quero saber se ficarás comigo no centro do fogo, sem recuares.
Não me interessa onde ou o quê ou com quem estudaste. Quero saber o que te sustém interiormente, quando tudo o mais desaba à tua volta.
Quero saber se consegues estar só contigo mesmo e se gostas verdadeiramente, da companhia que te fazes nos momentos vazios."
O.M.D.
sábado, 19 de setembro de 2009
Do Desconhecido
"Todas as coisas se movem constantemente, em nós, como um abraço: o desejado e o temido, o que procuramos e o que queremos afastar.
Desta matéria improvável, a colisão dos dois mundos, acaricia as diferentes, aproxima o que na aparência diverge.
A balança nunca pesará este tesouro deconhecido, porque é no prazer das pequenas coisas indefenidas, que o coração encontra a manhã e se anima.
Neste encontro, todas as ideias e todos os desejos nasceram e foram partilhados primeiro, sem palavras, pois a razão e a paixão são o leme e as velas da alma navegante. E só repousamos na razão, para podermos movermo-nos na emoção.
Por isso, quero falar-te ao ouvido, para conservares o gosto do vinho, quando já tivermos esquecido a sua cor e a taça por onde o bebemos.
Porque não há maior dádiva que aquela que converte todas as aspirações em lábios ardentes e a vida toda numa fonte.
Na calma da noite, caminhei pelas tuas ruas e vi beleza, não como uma necessidade, mas sim, como um extâse. Não a imagem que se vê, mas aquilo que vejo, até de olhos fechados.
Foi-me dito: És fraca, como o mais fraco dos elos da viagem...E isso não é, senão meia verdade. Sou também tão forte, como o mais forte dos elos da vida. Medir pelo mais pequeno dos actos é como medir o oceano pela fragilidade da sua espuma.
Breves são os dias desta história e ainda mais breve é o que dizemos, mas quem sabe o que parece oculto, não aguarda apenas o amanhã...
Se achares estas palavras vagas, tenta não as tornar claras, pois vago e nebuloso é o começo e o fim de todas as coisas...
Não foi o sonho que ninguém se lembrou de sonhar que edificou este momento?
É assim que se constroi o selo da cumplicidade, juramento sagrado do presente. Outra vez o abraço.
Não vivendo no passado, nem no futuro, ficamos apenas com o agora e os seus mistérios.
E só eles interessam.
Porque só eles fazem sonhar."