sábado, 19 de setembro de 2009

Do Desconhecido



"Todas as coisas se movem constantemente, em nós, como um abraço: o desejado e o temido, o que procuramos e o que queremos afastar.

Desta matéria improvável, a colisão dos dois mundos, acaricia as diferentes, aproxima o que na aparência diverge.

A balança nunca pesará este tesouro deconhecido, porque é no prazer das pequenas coisas indefenidas, que o coração encontra a manhã e se anima.

Neste encontro, todas as ideias e todos os desejos nasceram e foram partilhados primeiro, sem palavras, pois a razão e a paixão são o leme e as velas da alma navegante. E só repousamos na razão, para podermos movermo-nos na emoção.

Por isso, quero falar-te ao ouvido, para conservares o gosto do vinho, quando já tivermos esquecido a sua cor e a taça por onde o bebemos.

Porque não há maior dádiva que aquela que converte todas as aspirações em lábios ardentes e a vida toda numa fonte.

Na calma da noite, caminhei pelas tuas ruas e vi beleza, não como uma necessidade, mas sim, como um extâse. Não a imagem que se vê, mas aquilo que vejo, até de olhos fechados.

Foi-me dito: És fraca, como o mais fraco dos elos da viagem...E isso não é, senão meia verdade. Sou também tão forte, como o mais forte dos elos da vida. Medir pelo mais pequeno dos actos é como medir o oceano pela fragilidade da sua espuma.

Breves são os dias desta história e ainda mais breve é o que dizemos, mas quem sabe o que parece oculto, não aguarda apenas o amanhã...

Se achares estas palavras vagas, tenta não as tornar claras, pois vago e nebuloso é o começo e o fim de todas as coisas...

Não foi o sonho que ninguém se lembrou de sonhar que edificou este momento?

É assim que se constroi o selo da cumplicidade, juramento sagrado do presente. Outra vez o abraço.

Não vivendo no passado, nem no futuro, ficamos apenas com o agora e os seus mistérios.

E só eles interessam.

Porque só eles fazem sonhar."